Maquiavel
Se o partido principal, seja o povo, o exército ou a nobreza, que vos parece mais útil e mais conveniente para a conservação de vossa dignidade está corrompido, deveis seguir o humor e desculpá-lo. Em tal caso, a honradez e a virtude são perniciosas.
A habilidade e a constância são as armas da debilidade.
Em todas as coisas humanas, quando se examinam de perto, demonstra-se que não se pode afastar os obstáculos sem que deles surjam outros.
As armas devem ser usadas em última instância, onde e quando os outros meios não bastem.
Todos os Estados bem governados e todos os príncipes inteligentes tiveram cuidado de não reduzir a nobreza ao desespero, nem o povo ao descontentamento.
Aquele que quer ser tirano e não mata a Bruto e o que quer estabelecer um Estado livre e não mata os filhos de Bruto, só por breve tempo conservará sua obra.
A natureza dos homens soberbos e vis é mostrar-se insolentes na prosperidade e abjetos e humildes na adversidade.
Não pode ter grandes dificuldades quando abunda a boa vontade.
Vale mais fazer e arrepender-se, que não fazer e arrepender-se.
Poucos vêem o que somos, mas todos vêem o que aparentamos.
Os preconceitos têm mais raízes do que os princípios.
O que tem começo, tem fim.
Um povo corrompido que atinge a liberdade tem maior dificuldade em mantê-la.
Para bem conhecer a natureza dos povos, é necessário ser príncipe, e para bem conhecer a dos príncipes, é necessário pertencer ao povo.
Os homens prudentes sabem sempre tirar proveito dos atos a que a necessidade os constrangeu.
Quando um homem é bom amigo, também tem amigos bons.
Nunca foi sensata a decisão de causar desespero nos homens, pois quem não espera o bem não teme o mal.
Dizem a verdade aqueles que afirmam que as más companhias conduzem os homens à forca.
Todos os profetas armados venceram, e os desarmados foram destruídos.
Toda a ação é designada em termos do fim que procura atingir.
Eu creio que um dos princípios essenciais da sabedoria é o de se abster das ameaças verbais ou insultos.
Uma mudança deixa sempre patamares para uma nova mudança.
O primeiro método para estimar a inteligência de um governante é olhar para os homens que tem à sua volta.
Quem seja a causa de alguém se tornar poderoso, desgraça-se a si próprio: pois esse poder é produzido por si quer através de engenho quer de força; e ambos são suspeitos para aquele que subiu à posição de poder.
Uma república sem cidadãos de boa reputação não pode existir nem ser bem governada; por outro lado, a reputação dos cidadãos é motivo de tirania das repúblicas.
Os homens esquecem mais rapidamente a morte do pai do que a perda do patrimônio.
Os que vencem, não importa como vençam, nunca conquistam a vergonha.
Nunca se deve deixar que aconteça uma desordem para evitar uma guerra, pois ela é inevitável, mas, sendo protelada, resulta em tua desvantagem.
As injúrias devem ser feitas todas de uma só vez, a fim de que, saboreando-as menos, ofendam menos: e os benefícios devem ser feitos pouco a pouco, a fim de que sejam mais bem saboreados.
Quem se torna senhor de uma cidade habituada a viver em liberdade e não a destrói, espere para ser destruído por ela.
São tão simples os homens e obedecem tanto às necessidades presentes, que quem engana encontrará sempre alguém que se deixa enganar.
Precisando, portanto, um príncipe, de saber utilizar bem o animal, deve tomar como exemplo a raposa e o leão: pois o leão não é capaz de se defender das armadilhas, assim como a raposa não sabe defender-se dos lobos.
Os homens devem ser adulados ou destruídos, pois podem vingar-se das ofensas leves, não das graves; de modo que a ofensa que se faz ao homem deve ser de tal ordem que não se tema a vingança.
Estou convencido de que é melhor ser impetuoso do que circunspecto, porque a sorte é como a mulher; e, para dominá-la, é necessário bater nela e contrariá-la.
Julgo poder ser verdadeiro o fato de a sorte ser árbitro de metade das nossas ações, mas que, mesmo assim, ela permite-nos governar a outra metade ou parte dela.
Quanto mais próximo o homem estiver de um desejo, mais o deseja; e se não consegue realizá-lo, maior dor sente.
O desejo de conquista é coisa realmente muito natural e comum; e, sempre que os homens conseguem satisfazê-lo, são louvados, nunca recriminados; mas, quando não conseguem e querem satisfazê-lo de qualquer modo, aí estão o erro e a recriminação.
Os homens hesitam menos em ofender quem se faz amar do que em ofender quem se faz temer; porque o amor é mantido por um vínculo de obrigação que, por serem os homens pérfidos, é rompido por qualquer ocasião em benefício próprio; mas o temor é mantido por um medo de punição que não abandona jamais.
Onde há uma vontade forte, não pode haver grandes dificuldades.
Os homens quando não são forçados a lutar por necessidade, lutam por ambição.
Tornamo-nos odiados tanto fazendo o bem como fazendo o mal.
Uma guerra é justa quando é necessária.
Mas a ambição do homem é tão grande que, para satisfazer uma vontade presente, não pensa no mal que daí a algum tempo pode resultar dela.
O homem esquece mais facilmente a morte do pai do que a perda do patrimônio.