Lista

Nelson Rodrigues

Se cada um soubesse o que o outro faz dentro de quatro paredes, ninguém se cumprimentava.

Muitas vezes é a falta de caráter que decide uma partida. Não se faz literatura, política e futebol com bons sentimentos…

Um filho, numa mulher, é uma transformação. Até uma cretina quando tem um filho melhora.

A prostituta só enlouquece excepcionalmente. A mulher honesta, sim, é que, devorada pelos próprios escrúpulos, está sempre no limite, na implacável fronteira.

A platéia só é respeitosa quando não está entendendo nada.

Não se apresse em perdoar. A misericórdia também corrompe.

Só o rosto é indecente. Do pescoço para baixo, podia-se andar nu.

A liberdade é mais importante do que o pão.

Nada mais doce, nada mais terno, do que um ex-inimigo.

O sábado é uma ilusão.

Não acredito em honestidade sem acidez, sem dieta e sem úlcera.

As grandes convivências estão a um milímetro do tédio.

Só o cinismo redime um casamento. É preciso muito cinismo para que um casal chegue às bodas de ouro.

O amor entre marido e mulher é uma grossa bandalheira. É abjecto que um homem deseje a mãe dos seus próprios filhos

O povo é um débil mental. Digo isso sem nenhuma crueldade. Foi sempre assim e assim será, eternamente.

Em muitos casos, a raiva contra o subdesenvolvimento é profissional. Uns morrem de fome, outros vivem dela, com generosa abundância.

Hoje, o sujeito prefere que lhe xinguem a mãe e não o chamem de reacionário.

Sou um pobre nato e, repito, um pobre vocacional. Ainda hoje o luxo, a ostentação, a jóia, me confundem e me ofendem.

Havia, aqui, por toda parte, ‘amantes espirituais de Stalin’. Eram jornalistas, intelectuais, poetas, romancistas. Outros punham nas paredes retratos de Stalin. Era uma pederastia idealizada, utópica e fotográfica.

Vocês se lembram da fotografia de Stalin e Ribbentropp assinando o pacto nazi-comunista. Ninguém pode esquecer o riso recíproco e obsceno. Se faltou alguém em Nuremberg ? foi Stalin.

Tão parecidos, Stalin e Hitler, tão gêmeos, tão construídos de ódio. Ninguém mais Stalin do que Hitler, ninguém mais Hitler do que Stalin.

A Rússia, a China e Cuba são nações que assassinaram todas as liberdades, todos os direitos humanos, que desumanizaram o homem e o transformaram no anti-homem, na antipessoa. A história socialista é um gigantesco mural de sangue e excremento.

É preciso ir ao fundo do ser humano. Ele tem uma face linda e outra hedionda. O ser humano só se salvará se, ao passar a mão no rosto, reconhecer a própria hediondez.

Entre o psicanalista e o doente, o mais perigoso é o psicanalista.

Nas velhas gerações, o brasileiro tinha sempre um soneto no bolso. Mas os tempos parnasianos já passaram. Hoje, ferozmente politizado, ele tem sempre à mão um comício.

Marx roubou-nos a vida eterna, a minha e a do Otto Lara Resende. Pois exigimos que ele nos devolva a nossa alma imortal.

No Brasil, o marxismo adquiriu uma forma difusa, volatizada, atmosférica. É-se marxista sem estudar, sem pensar, sem ler, sem escrever, apenas respirando.

Hoje, o não-marxista sente-se marginalizado, uma espécie de leproso político, ideológico, cultural etc etc. Só um herói, ou um santo, ou um louco, ousaria confessar publicamente: ? ‘Meus senhores e minhas senhoras, eu não sou marxista, nunca fui marxista. E mais: ? considero os marxistas de minhas relações uns débeis mentais de babar na gravata’.

Como a nossa burguesia é marxista! E não só a alta burguesia. Por toda parte só esbarramos, só tropeçamos em marxistas. Um turista que por aqui passasse havia de anotar em seu caderninho: ? ‘O Brasil tem 100 milhões de marxistas’.

Ah, os nossos libertários! Bem os conheço, bem os conheço. Querem a própria liberdade! A dos outros, não. Que se dane a liberdade alheia. Berram contra todos os regimes de força, mas cada qual tem no bolso a sua ditadura.

Com o tempo e o uso, todas as palavras se degradam. Por exemplo: liberdade. Outrora nobilíssima, passou por todas as objeções. Os regimes mais canalhas nascem e prosperam em nome da liberdade.

A Rússia, a China e Cuba são nações que assassinaram todas as liberdades, todos os direitos humanos, que desumanizaram o homem e o transformaram no anti-homem, na antipessoa. A história socialista é um gigantesco mural de sangue e excremento.

É preciso ir ao fundo do ser humano. Ele tem uma face linda e outra hedionda. O ser humano só se salvará se, ao passar a mão no rosto, reconhecer a própria hediondez.

Entre o psicanalista e o doente, o mais perigoso é o psicanalista.

Nas velhas gerações, o brasileiro tinha sempre um soneto no bolso. Mas os tempos parnasianos já passaram. Hoje, ferozmente politizado, ele tem sempre à mão um comício.

Marx roubou-nos a vida eterna, a minha e a do Otto Lara Resende. Pois exigimos que ele nos devolva a nossa alma imortal.

No Brasil, o marxismo adquiriu uma forma difusa, volatizada, atmosférica. É-se marxista sem estudar, sem pensar, sem ler, sem escrever, apenas respirando.

Hoje, o não-marxista sente-se marginalizado, uma espécie de leproso político, ideológico, cultural etc etc. Só um herói, ou um santo, ou um louco, ousaria confessar publicamente: ? ‘Meus senhores e minhas senhoras, eu não sou marxista, nunca fui marxista. E mais: ? considero os marxistas de minhas relações uns débeis mentais de babar na gravata’.

Como a nossa burguesia é marxista! E não só a alta burguesia. Por toda parte só esbarramos, só tropeçamos em marxistas. Um turista que por aqui passasse havia de anotar em seu caderninho: ? ‘O Brasil tem 100 milhões de marxistas’.

Ah, os nossos libertários! Bem os conheço, bem os conheço. Querem a própria liberdade! A dos outros, não. Que se dane a liberdade alheia. Berram contra todos os regimes de força, mas cada qual tem no bolso a sua ditadura.

Com o tempo e o uso, todas as palavras se degradam. Por exemplo: liberdade. Outrora nobilíssima, passou por todas as objeções. Os regimes mais canalhas nascem e prosperam em nome da liberdade.

Eu amo a juventude como tal. O que eu abomino é o jovem idiota, o jovem inepto, que escreve nas paredes ‘É proibido proibir’ e carrega cartazes de Lenin, Mao, Guevara e Fidel, autores de proibições mais brutais.

Ainda ontem dizia o Otto Lara Resende: ? ‘O cinema é uma maneira fácil de ser intelectual sem ler e sem pensar’. Mas não só o cinema dá uma carteirinha de intelectual profundo. Também o socialismo. Sim, o socialismo é outra maneira facílima de ser intelectual sem ligar duas idéias.

Qualquer indivíduo é mais importante que toda a Via Láctea.

Outrora, os melhores pensavam pelos idiotas; hoje, os idiotas pensam pelos melhores. Criou-se uma situação realmente trágica: ? ou o sujeito se submete ao idiota ou o idiota o extermina.

Antigamente, o silêncio era dos imbecis; hoje, são os melhores que emudecem. O grito, a ênfase, o gesto, o punho cerrado, estão com os idiotas de ambos os sexos.

Quando os amigos deixam de jantar com os amigos [por causa da ideologia], é porque o país está maduro para a carnificina.

Na velha Rússia, dizia um possesso dostoievskiano: ? ‘Se Deus não existe tudo é permitido’. Hoje, a coisa não se coloca em termos sobrenaturais. Não mais. Tudo agora é permitido se houver uma ideologia.

Considero o filho único um monstro de circo de cavalinhos, um mártir, mártir do pai, mártir da mãe e mártir dessas circunstâncias. As famílias numerosas são muito mais normais, mais inteligentes e mais felizes.

As feministas querem reduzir a mulher a um macho mal-acabado.

Não há ninguém mais bobo do que um esquerdista sincero. Ele não sabe nada. Apenas aceita o que meia dúzia de imbecis lhe dão para dizer.

No Brasil, só se é intelectual, artista, cineasta, arquiteto, ciclista ou mata-mosquito com a aquiescência, com o aval das esquerdas.

Estou imaginando se, um dia, Jesus baixasse à Terra. Vejo Cristo caminhando pela rua do Ouvidor. De passagem, põe uma moeda no pires de um ceguinho. Finalmente, na esquina a Avenida, Jesus vê D. Helder. Corre para ele; estende-lhe a mão. D. Helder responde: ? ‘Não tenho trocado!’. E passa adiante.

D. Helder só olha o céu para saber se leva ou não o guarda-chuva.

O tempo das passeatas acabou, mas o padre de passeata continua, inexpugnável no seu terno da Ducal e vibrando, como um estandarte, um Cristo também de passeata.

Os padres querem casar. Mas quem trai um celibato de 2 mil anos há de trair
um casamento em quinze dias.

Os padres exigem o fim do celibato. Portanto, odeiam a castidade. Imaginem um movimento de meretrizes a favor da castidade. Pois tal movimento não me espantaria mais do que o motim dos padres contra a própria.

O padre de passeata é hoje, uma ordem tão definida, tão caracterizada como a dos beneditinos, dos franciscanos, dos dominicanos e qualquer outra. E está a serviço do ódio.

A Igreja está ameaçada pelos padres de passeata, pelas freiras de minissaia e pelos cristãos sem Cristo. Hoje, qualquer coroinha contesta o Papa.

Outrora, o remador de Bem-Hur era um escravo, mas furioso. Remava as 24 horas por dia, porque não havia outro remédio e por causa das chicotadas. Mas, se pudesse, botaria formicida no café dos tiranos. Em nosso tempo, o socialismo inventou outra forma de escravidão: ? a escravidão consentida e até agradecida.

O dr. Alceu fala a toda hora na marcha irreversível para o socialismo. Afirma que a Revolução Russa também é irreversível. Em primeiro lugar, acho admirável a simplicidade com que o mestre administra a História, sem dar satisfações a ninguém, e muito menos à própria História. Não lhe faria mal nenhum um pouco mais de modéstia. De mais a mais, quem lhe disse que a Revolução Russa é irreversível?

Diz o dr. Alceu que a Revolução Russa é ‘o maior acontecimento do século’. Como se engana o velho mestre! O ‘maior acontecimento do século’ é o fracasso dessa mesma revolução.

Sou contra a pílula, e ainda mais contra a ciência que a inventou; a saúde pública que a permite; e o amor que a toma.

Antigamente, o defunto tinha domicílio. Ninguém o vestia às pressas, ninguém o despachava às escondidas. Permanecia em casa, dentro de um ambiente em que até os móveis eram cordiais e solidários. Armava-se a câmara-ardente num doce sala de jantar ou numa cálida sala de visitas, debaixo dos retratos dos outros mortos. Escancaravam-se todas as portas, todas as janelas; e esta casa iluminada podia sugerir, à distância, a idéia de um aniversário, de um casamento ou de um velório mesmo.

A educação sexual só devia ser dada por um veterinário.

O casamento já é indissolúvel na véspera.

A solidão começou para o verdadeiro católico. Tomem nota: ainda seremos o maior povo ex-católico do mundo.

Chegou às redações a notícia da minha morte. E os bons colegas trataram de fazer a notícia. Se é verdade o que de mim disseram os necrológios, com a generosa abundância de todos os necrológios, sou de fato um bom sujeito.

Acho a velocidade um prazer de cretinos. Ainda conservo o deleite dos bondes que não chegam nunca.

O artista tem que ser gênio para alguns e imbecil para outros. Se puder ser imbecil para todos, melhor ainda.

Outro dia ouvi um pai dizer, radiante: ? ‘Eu vi pílulas anticoncepcionais na bolsa da minha filha de doze anos!’. Estava satisfeito, com o olho rútilo. Veja você que paspalhão!

A mais tola das virtudes é a idade. Que significa ter quinze, dezessete, dezoito ou vinte anos? Há pulhas, há imbecis, há santos, há gênios de todas as idades.

Está se deteriorando a bondade brasileira. De quinze em quinze minutos, aumenta o desgaste da nossa delicadeza.

O homem não nasceu para ser grande. Um mínimo de grandeza já o desumaniza. Por exemplo: ? um ministro. Não é nada, dirão. Mas o fato de ser ministro já o empalha. É como se ele tivesse algodão por dentro, e não entranhas vivas.

Há na aeromoça a nostalgia de quem vai morrer cedo. Reparem como vê as coisas com a doçura de um último olhar.

O brasileiro não está preparado para ser ‘o maior do mundo’ em coisa nenhuma. Ser ‘o maior do mundo’ em qualquer coisa, mesmo em cuspe à distância, implica uma grave, pesada e sufocante responsabilidade.

A grande vaia é mil vezes mais forte, mais poderosa, mais nobre do que a grande apoteose. Os admiradores corrompem.

Nós, da imprensa, somos uns criminosos do adjetivo. Com a mais eufórica das irresponsabilidades, chamamos de ‘ilustre’, de ‘insigne’, de ‘formidável’, qualquer borra-botas.

Tudo passa, menos a adúltera. Nos botecos e nos velórios, na esquina e nas farmácias, há sempre alguém falando nas senhoras que traem. O amor bem-sucedido não interessa a ninguém.

Todo amor é eterno. E se acaba, não era amor.

O gozo é uma mijada.

Deve-se ler pouco e reler muito. Há uns poucos livros totais, três ou quatro, que nos salvam ou que nos perdem. E, no entanto, o leitor se desgasta, se esvai, em milhares de livros mais áridos do que três desertos.

Amar é ser fiel a quem nos trai.

A fidelidade devia ser facultativa.

O palavrão está corrompido pelas mulheres.

A Europa é uma burrice aparelhada de museus.

O ouvinte só é respeitoso quando não está entendendo nada.

O homem só é feliz pelo supérfluo. No comunismo, só se tem o essencial. Que coisa abominável e ridícula!

Todas as mulheres deveriam ter catorze anos.

O ‘homem de bem’ é um cadáver mal informado. Não sabe que morreu.

Hoje é muito difícil não ser canalha. Todas as pressões trabalham para o nosso aviltamento pessoal e coletivo.

Toda mulher gosta de apanhar.

A cama é um móvel metafísico.

Até 1919, a mulher que ia ao ginecologista sentia-se, ela própria, uma adúltera.

A companhia de um paulista é a pior forma de solidão.

Só os profetas enxergam o óbvio.

Toda unanimidade é burra.

Só acredito nas pessoas que ainda se ruborizam.

O boteco é ressoante como uma concha marinha. Todas as vozes brasileiras passam por ele.

Assim como há uma rua Voluntários da Pátria, podia haver uma outra que se chamasse, inversamente, rua Traidores da Pátria.

O jovem tem todos os defeitos do adulto e mais um: – o da imaturidade.

Ou a mulher é fria ou morde. Sem dentada não há amor possível.

Toda mulher bonita leva em si, como uma lesão da alma, o ressentimento. É uma ressentida contra si mesma.

Em nosso século, o ‘grande homem’ pode ser, ao mesmo tempo, uma boa besta.

Deus está nas coincidências.

O que dá ao homem um mínimo de unidade interior é a soma de suas obsessões

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