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Jorge Amado

É sério, mas é surrealista. Afirmação atribuída ao ex-presidente francês Charles de Gaulle de que o Brasil não é um país sério.

Um instrumento anti-social e extremamente elitista. Em 1986, sobre a obrigatoriedade do diploma universitário para o exercício da profissão de jornalista.

Continuo batendo com dois dedos e errando muito. Devo dizer que sou um dos homens mais incapazes do mundo. A lista de minhas incapacidades é enorme.
Obs.: Em 1988, quando questionado porque não trocava sua velha máquina de escrever mecânica por uma eletrônica.

Na realidade, o tema da infelicidade tem engendrado montanhas de livros horríveis, umas masturbações insuportáveis.

Acho que você não deve fazer nada que não o divirta, lhe dê prazer. Também não deve exercer um ofício, uma profissão para a qual é incompetente.
Obs.: Em 1988, sobre o fato de divertir-se escrevendo seus livros.

Eu continuo firmemente pensando em modificar o mundo e acho que a literatura tem uma grande importância.

Isto faz com que eu seja hoje um homem muito tranqüilo diante da vida e diante das coisas, otimista como sempre fui.

Pode haver muita deficiência no livro de um jovem, mas haverá também nele uma coisa fundamental – a força da juventude.

A juventude é um bem imenso que você não prolonga. A juventude se acaba, nem que você queira iludir-se com esse negócio de jovem de espírito. Jovem é jovem, ponto final.

Nenhum crítico ensina ninguém a fazer romance.
Obs.: Em 1988, quando perguntado se aprendeu alguma coisa com a crítica.

Eu tive mais da vida do que mereci, do que pedi. Sou um homem muito feliz com a vida.

Eu vou te responder. A minha resposta é a seguinte: eu acho prêmio em geral uma bestice.

O socialismo não depende de você, nem de mim, nem de ninguém. O socialismo é a marcha inexorável da humanidade que marcha pra frente.

Sem democracia não há socialismo.

Eu sou muito otimista, muito. O Brasil é um país com uma força enorme. Nós somos um continente, meu amor. Nós não somos um paisinho, nós somos um continente, com um povo extraordinário.

Eu acho que o escritor verdadeiro é aquele que escreve sobre o que ele viveu.

Eu me sinto mal. Porque eu acho que deviam ter 50 escritores mais lidos no Brasil. Sobre como se sentia sendo o escritor mais lido do país.

A novela leva a milhões de pessoas a imagem de personagens de romance, que ficariam restritas a públicos bem menores.

Vejo somente uma solução para a dívida externa no Brasil. Não pagar. Não vejo outra.

Infelizmente eu não posso escrever um livro no Brasil. Para trabalhar eu preciso fugir.
Obs.: Em 1988, sobre o assédio que sofria na Bahia e o impedia de escrever.

A adaptação de qualquer obra de um autor é sempre uma violência, mas considero as versões de meus romances para a televisão muito positivas, porque levam a obra a milhões de pessoas que não leriam o livro.

Histórias engraçadas e histórias trágicas. Porém, como tenho uma visão alegre da vida, guardo, sobretudo, a memória das coisas divertidas que me fizeram rir.

O capitalismo conserva-se o mesmo sistema frágil e injusto, produtor de guerras, de miséria, baseado no lucro, na ânsia do dinheiro. São razões muito miseráveis.

Hoje, ser de outra religião que não a católica é um negócio ótimo, você até pode ser proprietário de rede de televisão…

Quando você morre em um país sem memória, imediatamente eles te esquecem. Quando eu morrer, vou passar uns 20 anos esquecido.
Obs.: Em 1991, sobre o ostracismo da obra de Érico Veríssimo e a produção literária brasileira atual.

Para fazer uma coisa que não me diverte tenho que fazer um esforço muito grande.

Não acredito em literatura latino-americana, acho este termo muito colonialista. Mas cada país do continente tem sua literatura, muito boa, por sinal.

É necessário que os países do Primeiro Mundo entendam que é preciso preservar também cidades como Salvador, não apenas Roma ou Paris.
Obs.: Em 1991, sobre a má conservação do Pelourinho em Salvador.

O humor não é coisa da juventude. O jovem tem força criadora, elã, paixão, entusiasmo e ímpeto, uma coisa que depois você tem menos. Depois você tem a experiência, e o humor é da experiência.

Mas enquanto houver miséria, enquanto houver Terceiro Mundo, pode ter certeza, meu amigo, que não haverá paz no mundo.

Acho que o mais terrível foi a degradação do caráter. Em relação a duas coisas. Você teve a tortura. Em segundo lugar, a ditadura institucionalizou a corrupção. Hoje, esse mal faz parte dos costumes.
Obs.: Em 1992, sobre as conseqüências da ditadura no Brasil.

Mais difícil do que publicar um livro é escrever um bom livro.
Obs.: Sobre a dificuldade de publicação para um jovem autor.

Aprendi, nos anos em que estive exilado na Europa, de 48 a 52, uma coisa que o brasileiro sabe pouco, que é responder cartas. Me custa muito tempo, mas ainda hoje faço um esforço para responder.

Na Europa, chamam-me de mestre, mas é caminhando pelas ruas de Salvador que eu me sinto à vontade.

O que está acontecendo no Brasil é como uma coceira, muita gente pensa que é lepra, mas é só uma coceira, vai acabar.

A coisa pior que pode acontecer a um escritor é ficar cavando prêmios.
Obs.: Em 1992, ao responder se aspirava ao Prêmio Nobel de Literatura.

Só na Bahia poderia se ver tanta gente festejando um homem que não é político, fazendeiro, rico, cardeal ou general.

Um escritor aos 80 anos está começando a aprender a escrever.
Obs.: Ao completar 80 anos, sobre o ofício de escrever.

Sou filho da cultura popular da Bahia e da cultura francesa. Esta é uma das minhas misturas.

A gerente, que nos conheceu bolcheviques convictos e marginalizados, não entende nada quando vê o Mario presidente e outros, ministros e escritores famosos.

Para mim, o sexo sempre foi uma festa. Aos 82 anos, a festa é muito diferente do que era aos 20, aos 50, mesmo aos 60: é uma festa que é feita da experiência, do refinamento.

Pobres dos escritores que não se derem conta disso: escrever é transmitir vida, emoção, o que conheço e sei, minha experiência e forma de ver a vida.
Obs.: Em 1995, comentando não escrever para ganhar prêmios quando da sua escolha para o Prêmio Camões.

Mas creio que na França há mais respeito pela privacidade das pessoas. No Brasil existe carinho, muito carinho, nenhum respeito.
Obs.: Em 1995, sobre sua mudança para Paris em busca de tranqüilidade para escrever um novo romance.

Acho que o socialismo é o futuro. A queda do muro significou o fim de ditaduras medonhas, que existiam em nome do comunismo, mas não eram comunismo na realidade. Acredito no avanço do homem em direção a um futuro melhor.

Nossas elites são, de fato, extremamente preconceituosas, não merecem grande atenção.

A vida me deu mais do que pedi e mereci. Não me falta nada. Tenho Zélia e isso me basta.

Aceitei o convite com muita satisfação. O Cacá é um diretor muito talentoso. A Sônia é minha filha três vezes. Sobre sua participação no filme Tieta, estrelado por Sônia Braga.

Eu não corrigia nada, escrevia apressadamente, essas coisas de juventude. Mas os revisores colaboravam bravamente.
Obs.: Em 1996, sobre os erros que foram corrigidos por sua filha, Paloma Amado, em sua obra.

Não escrevi meu primeiro livro pensando em ficar famoso. Escrevi pela necessidade de expressar o que sentia…

Que prêmio a mais pode querer um escritor cuja obra é lida em mais de 30 idiomas.

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