Jorge Luis Borges
Que teia é esta, a do será, do é e do foi?
O dever de todas as coisas é ser uma felicidade.
No passado cometi o maior pecado que um homem pode cometer: não fui feliz.
O casamento é um destino pobre para uma mulher.
A velhice poderia ser a suprema solidão, não fosse a morte uma solidão ainda maior.
A vida é pobre demais para não ser também imortal.
Não odeies o teu inimigo, porque, se o fazes, és de algum modo o seu escravo. O teu ódio nunca será melhor do que a tua paz.
Fazer o bem ao teu inimigo pode ser obra de justiça e não é árduo; amá-lo, tarefa de anjos e não de homens.
O livro é uma extensão da memória e da imaginação.
Publicamos para não passar a vida a corrigir rascunhos. Quer dizer, a gente publica um livro para livrar-se dele.
A memória é o essencial, visto que a literatura está feita de sonhos e os sonhos fazem-se combinando recordações.
Nunca releio o que escrevo. Prefiro viver em função do futuro.
A poesia é algo tão íntimo que não pode ser definida.
Sem leitura não se pode escrever. Tampouco sem emoção, pois a literatura não é, certamente, um jogo de palavras. É muito mais. Eu diria que a literatura existe através da linguagem, ou melhor, apesar da linguagem.
Para a tarefa do artista, a cegueira não é totalmente negativa, já que pode ser um instrumento.
São poucos os políticos que sabem fazer política. Mas, quando um intelectual tenta entrar nesse meio, então é o fim do mundo.
Só se devem ler livros escritos há mais de cem anos.
Parece-me fácil viver sem ódio, coisa que nunca senti. Mas viver sem amor acho impossível.
Por vezes à noite há um rosto
Que nos olha do fundo de um espelho. E a arte deve ser como esse espelho
Que nos mostra o nosso próprio rosto
A morte usa-me incessantemente.
Não há prazer mais complexo que o do pensamento.
A imagem que um homem só pode conceber é a de que não toca ninguém.
O original não é fiel à tradução.
O tempo não existe. É apenas uma convenção.
Não cultivei minha fama, que será efêmera.
Biografias: São o exercício da minúcia, um absurdo. Algumas constam exclusivamente de mudanças de domicílio.
Eu creio que é melhor pensar que Deus não aceita subornos.
Sonhar é a atividade estética mais antiga.
Dólares: São esses imprudentes bilhetes americanos que têm diversos valores e o mesmo tamanho.
Quem diz que a arte não deve propagar doutrinas costuma referir-se a doutrinas contrárias às suas.
Eu sempre serei o futuro Nobel. Deve ser uma tradição escandinava.
A História Universal é a de um só homem.
Assinei tantos exemplares de meus livros que, no dia em que eu morrer, o que não tiver a minha assinatura terá um grande valor.
O tempo é a substância com a qual estou acostumado.
Dizem que sou um grande escritor. Agradeço essa curiosa opinião, mas não a compartilho. No dia de manhã, alguns lúcidos a refutarão facilmente e me chamarão de impostor ou amador ou de ambas as coisas ao mesmo tempo.
Esporte: eu creio que teria que inventar um jogo no que ninguém ganhasse.
Se víssemos realmente o Universo, talvez o entenderíamos.
Não sei até que ponto um escritor pode ser revolucionário. A princípio, ele trabalha com o idioma, que é uma tradição.
Ninguém é pátria, todos o somos.
O tempo é o melhor antologista, ou o único, talvez.
O tempo é a matéria da qual fui criado.
A felicidade não precisa ser transmutada em beleza, mas a desventura sim.
As tiranias fomentam a estupidez.
A paternidade e os espelhos são abomináveis porque multiplicam o número de homens.
Me agradaria ser valente. Meu dentista assegura que não o sou.
A biblioteca é uma esfera cujo centro cabal é qualquer hexágono, cuja circunferência é inacessível.
Eu não bebo, não fumo, não escuto rádio, não me drogo, como pouco. Eu diria que meus únicos vícios são Dom Quixote, A Divina Comédia e não incorrer na leitura de Enrique Larreta nem de Benavente.
Não és ambicioso: contentas-te com ser feliz.
Democracia: é uma crendice muito difundida, um abuso da estatística.
Antes as distâncias eram maiores porque o espaço se mede pelo tempo.
O tema da inveja é muito espanhol. Os espanhóis sempre estão pensando na inveja. Para dizer que algo é bom dizem: ‘É invejável’.
A Universidade deve fazer questão do antigo e do alheio. Se faz questão do próprio e do contemporâneo, a Universidade é inútil, porque está ampliando uma função que já cumpre a imprensa.
Ordenar bibliotecas é exercer de um modo silencioso a arte da crítica.
A literatura não é outra coisa além de um sonho dirigido.
Estou só e não há ninguém no espelho.
Há comunistas que sustentam que ser anticomunista é ser fascista. Isto é tão incompreensível como dizer que não ser católico é ser mormón.
Que o céu exista, ainda que nosso lugar seja o inferno.
Somos nossa memória, somos esse quimérico museu de formas inconstantes, esse montão de espelhos rompidos.
A beleza é esse mistério formoso que nem a psicologia nem a retórica a decifram.
Para o argentino, a amizade é uma paixão e a polícia uma máfia.
De que outra forma se pode ameaçar que não seja de morte? O interessante, o original, seria que alguém ameaçasse o outro com a imortalidade.
Quiçá tenho inimigos de minhas opiniões, mas eu mesmo, se espero um momento, posso ser também inimigo de minhas opiniões.
Suspeitei uma vez que a única coisa sem mistério é a felicidade, porque se justifica por si só.
Eu não falo de vinganças nem perdões, o esquecimento é a única vingança e o único perdão.
Que cada homem construa sua própria catedral. Para que viver de obras de arte alheias e antigas?
Sempre senti que há algo em Buenos Aires que me agrada. Agrada-me tanto que não me agrada que lhe agrade a outras pessoas. É um amor assim, zeloso.
O inferno e o paraíso me parecem desproporcionados. Os atos dos homens não merecem tanto.
Só aquilo que se foi é o que nos pertence.
Noites teve em que me acreditei tão seguro de poder esquecê-la que voluntariamente a recordava.
Há derrotas que têm mais dignidade do que a vitória.
Tudo está determinado, mas devemos ter a ilusão de que existe o livre arbítrio e que o que acontece na história é conseqüência do que aconteceu antes.
A dúvida é um dos nomes da inteligência.
Se de algo sou rico é de perplexidades e não de certezas.
Pensar é esquecer diferenças, é generalizar, abstrair.
Aos setenta e seis anos recuperei parte da vista e voltei a contemplar o
rosto de uma formosa amiga da juventude.
Quiçá porque já não vejo a felicidade como algo inatingível; agora sei que a felicidade pode ocorrer em qualquer momento e que não se deve a perseguir.
A juventude me parece bem mais próxima agora do que quando eu era jovem.
Ocorre que a primeira impressão que causaram as pessoas que são importantes na vida de alguém, costuma ser bastante vaga.
A morte é uma vida vivida. A vida é uma morte que vem.
Alguém está apaixonado quando se dá conta de que outra pessoa é única.
A história é uma forma mais de ficção.
Que outros se gabem das páginas que escreveram; eu me orgulho das que li.
Cometi o pior pecado do que um homem pode cometer. Não fui Feliz.
Todas as teorias são legítimas e nenhuma tem importância. O que importa é o que se faz com elas.
Tome cuidado ao eleger seus inimigos pois pode terminar parecendo-se com eles.
Alguns chegam a ser grandes pelo que lêem e não pelo que escrevem.
Creio que com o tempo mereceremos não ter governos.